domingo, 22 de agosto de 2010

Avó



Eu tenho a felicidade de ter 2 avós perto de mim. São almoços de sábado em uma e os de domingo na outra. Elas são muito diferentes, mas, as duas são ativas e saudáveis nos seus 84 anos.
Para um trabalho da faculdade, fiz a entrevista com uma delas junto com uma amiga:
A entrevista teve duração de uma hora e vinte minutos.
A colaboradora foi a senhora M. L. F. C., de oitenta e quatro anos, viúva, mãe de três filhos, sendo dois homens e uma mulher e avó de seis netos, dois homens e quatro mulheres. Nasceu e reside em Itatiba-SP.
A prezada senhora aparentou estar bem à vontade em companhia das referidas alunas e muito disposta à responder, ou melhor, à conversar com as mesmas, pois apesar das alunas terem elaborado um roteiro de questões norteadoras, a entrevista ocorreu de uma forma tão natural e descontraída que se tornou uma agradável atividade e uma excelente oportunidade de aprender com tamanha sabedoria, experiência, dedicação, alto astral e exemplo de vida.
Primeiramente, foi conversado sobre como a entrevistada enfrentou o mercado de trabalho em uma época em que não era comum as mulheres trabalharem e ela nos contou que para ela foi uma coisa natural. Ela tinha uma senhora que a ajudava nas tarefas domésticas e nos cuidados com seu filho.
Ela trabalhava como professora primária de uma escola municipal de Itatiba e realizava diversas tarefas escolares.
Cumpriu o seu trabalho durante seis anos, pois com o nascimento do segundo filho, o marido pediu que ela parasse de trabalhar e ficasse na casa para cuidar dos filhos e receber os amigos e colegas de profissão, porque por melhor que fosse a empregada doméstica, ela não seria como uma mãe.
Neste momento, a entrevistada ressaltou que se seu pai estivesse vivo não a deixaria parar de trabalhar já que foi com muito esforço e sacrifício que ela conseguiu estudar e se tornar professora.
Ela nos relatou que seu pai, apesar de humilde, trabalhava como secretário na Prefeitura da cidade e sempre valorizou os estudos, desejando que os dois filhos tivessem uma profissão. Ele era inteligente e instruído, fez o primário e procurou fazer aulas particulares de francês, matemática e ciências.
Assim, em uma época que não existia ginásio e colegial na cidade, primeiramente o irmão da entrevistada que era mais velho estudou em um colégio particular de Campinas e posteriormente começou a trabalhar e mudou-se para São Paulo para estudar Direito na PUC-SP onde se formou.
Então, a família da entrevistada teve dinheiro para mandá-la em um colégio interno de Bragança, sob um regime rígido de freiras, onde ela estudou por sete anos para se tornar professora primária.
Ela voltava para Itatiba para visitar a família mensalmente e nessas suas visitas a entrevistada cuidava da mãe que estava muito doente.
Outro ponto bastante comentado pela entrevistada foi sobre seu casamento feliz que durou cinqüenta e um anos, pois seu marido faleceu há cinco anos atrás. Ela disse que nunca tiveram uma briga de casal, as poucas discussões que ocorreram foram pelos filhos.
Eles eram um casal companheiro, viajavam sozinhos muitas vezes, freqüentavam bailes e jantares e participavam do Rotary Clube da cidade. Então, ela sente muita falta do marido falecido, às vezes ela o espera chegar a casa às 18 horas, dentre outros hábitos que tinha com ele.
Ela se casou com vinte sete anos e acredita que foi cedo, poderia ter esperado até ter trinta anos, mas ficou com medo de ficar “solteirona”.
Teve o primeiro filho com vinte nove anos, a segunda filha com trinta e um anos e o terceiro filho com trinta e quatro anos.
A entrevistada nos contou toda a trajetória do marido que veio sem patrimônio da Itália, lutou na guerra e passou por muitas dificuldades até se estabelecer como um empresário bem sucedido, depois a empresa quase faliu o que foi uma frustração profissional para o falecido senhor.
A entrevistada demonstrou ter muito orgulho de cada um dos três filhos, que estudaram em universidades conceituadas e se realizaram profissionalmente.
Ela destacou a importância do trabalho, algo que faz bem para a alma, para o físico e para viver decentemente.
Uma frustração dela foi que a sua mãe já tinha falecido quando ela se casou e o pai morreu alguns anos depois.
Sobre a experiência de ser mãe a avó a entrevistada falou que a maternidade foi maravilhosa, um novo mundo para ela e seus filhos não deram trabalho quando crianças, por exemplo, nunca tiraram notas baixas. E no âmbito de ser avó, ela disse que os netos também são excelentes, todos são inteligentes e maravilhosos.
A maior felicidade que ela tem é que a família é muito unida, aos sábados todos se reúnem na casa dela para o almoço. Vão os filhos, os netos, os namorados dos netos, os amigos, o irmão de oitenta e seis anos que também é super lúcido e ativo, a cunhada e ela faz tudo com o maior prazer.
Uma mensagem que a entrevistada nos deixou é que ela é muito feliz e que tem oitenta e quatro anos bem vividos, ressaltou que ninguém tem que chorar quando ela falecer pois ela aproveitou e ainda aproveita muito sua vida. O que a marcou foi sua vivencia.
Além de realizar diversas atividades, aceitar qualquer convite para sair, passear, gostaria de viajar para mais países, além da Europa, pois considera a viagem uma aula de cultura gratuita.
Sobre o dilema que as mulheres tem de conciliar suas vidas profissionais e pessoais ela destacou os seguintes adjetivos: Insistência, Constancia, Paciência, Dedicação e Não desistir nunca.
Sobre a sua saúde, a entrevistada faz check up anualmente e não tem e nunca teve problemas graves como câncer, diabetes, hipertensão, colesterol, dentre outros, mas, ela utiliza um aparelho no ouvido pois está com um pouco de perda de audição.
Outro ponto relevante é que os três filhos da entrevistada que foram criados no ambiente em que se presa o estudo e o trabalho, estudaram em excelentes escolas e se casaram e tiveram filhos por volta dos trinta anos e os netos seguem o mesmo caminho, todos estão na faculdade ou se formando, trabalhando e ela ainda não tem bisnetos.
A entrevistada apesar de tudo negativo que viveu não se abateu, deu a volta por cima e quer continuar viajando, caminhando, lendo, fazendo palavra cruzada, crochê, tricô, bordado e navegando muito na internet, vendo notícias, fotos dos eventos da cidade, falando no skype com os parentes do marido falecido da Itália, pegando receitas e usando seu e-mail.
Também, gosta muito de receber amigos e familiares na sua casa e comer e beber bem.
Já começou a escrever sua autobiografia, lamentou que seu marido faleceu sem escrever a dele porque ele tinha tantas histórias para contar, da Itália, da guerra, da vivencia no Brasil.
Enfim, a entrevistada é uma mulher, mãe, avó, viúva, aposentada, idosa, saudável, ativa, batalhadora e alegre.