domingo, 1 de setembro de 2013

Principais queixas dos consultórios

Hoje no Caderno Especial de Domingo (CED) do Jornal de Itatiba (JI) saiu uma reportagem sobre as queixas mais frequentes da Psicoterapia e eu participei dela:








Os principais problemas levados aos consultórios

Qual seu nome completo e função? Stella Calvi Franco Penteado, psicóloga clínica.

  1. Cite cinco principais problemas levados ao consultório pelos pacientes. Coloque-os em ordem do mais levado para o menos levado ao consultório.
R: Pacientes adultos: ansiedade, depressão, dificuldades nos relacionamentos, estresse e luto.
Pacientes adolescentes: problemas de comportamentos, depressão, dificuldades nos relacionamentos, ansiedade, transtornos alimentares/dúvidas na escolha profissional.
Pacientes crianças: dificuldades escolares, problemas de comportamentos, falta de limites, dificuldades nos relacionamentos e medos.

  1. Quem procura mais por ajuda profissional: homem ou mulher? Por quê? De qual faixa etária e por quê?
R: Com relação às crianças e aos adolescentes, não existe diferença no quesito sexo. Já nos adultos, as mulheres buscam mais a psicoterapia, apesar de estar crescendo o número de homens como pacientes.
Os homens ainda sentem receio de fazer terapia, de mostrar suas fraquezas e de precisar de uma ajuda profissional.
Com relação à idade, varia bastante, dos 3 aos 60 anos. Os idosos vieram de uma geração em que fazer terapia não era visto como um fato natural e dificilmente a procuram.

  1. Na sua opinião, diante destes problemas relatados na questão acima, qual ou quais os motivos para eles serem desencadeados? Fale sobre o assunto.
R: Os comportamentos e as emoções são influenciados pela percepção que cada um tem dos acontecimentos da vida. Dessa forma, é a maneira que as pessoas “interpretam” a situação que vai determinar o que elas sentem e desenvolver determinado problema seja ansiedade, depressão, estresse, problemas nos relacionamentos, dentre outros.
Além disso, os transtornos de ansiedade e depressão, além do estresse, estão diretamente relacionados ao nosso estilo de vida moderno: corrido e intenso.
Já as questões de relacionamentos (sejam familiares ou interpessoais) existem por que vivemos em sociedade e estamos o tempo todo interagindo uns com os outros.
Especificamente nos adolescentes, existe um perfil próprio da fase de mudanças que acarretam inseguranças pessoais e profissionais, podendo desencadear certos problemas. E nas crianças também questões como medos, limites, dificuldades escolares são características dessa etapa.

  1. É correto afirmar que a vida moderna isola as pessoas, que não têm com quem se relacionar, com quem falar; é como se o vovô, a vovó, os conselheiros e os padres confessores deixassem um grande vazio que hoje é ocupado por profissionais como psicólogos?
R: Com o estilo de vida das pessoas, hoje em dia, não se tem mais o costume de ocorrer longas conversas com os avós e conselheiros. Entretanto a psicoterapia tem uma função diferente das relações apresentadas com esses indivíduos, ela não tem o objetivo da pessoa “desabafar”, pois isso ela pode fazer com os amigos até no chat do “Facebook” ou no “WhatsApp”.
A psicoterapia é realizada pelo psicólogo que tem um conhecimento científico na intervenção técnica, ou seja, ela é intencional, estudada, planejada e feita através de conhecimentos específicos aprendidos nos estudos da área. Enfim, a relação entre o psicólogo e o paciente é completamente diversa daquela que o paciente tem com o seu amigo, pai, avô ou conselheiro.

  1. É correto afirmar também que fazer terapia, atualmente, é normal, mas nem sempre foi assim? Antes era encarada de maneira “preconceituosa” ou deixada como última alternativa de tratamento? Comente.
R: Infelizmente ainda existe certo preconceito com a terapia, mas ele vem diminuindo cada vez mais. As pessoas desinformadas acreditam que ela deve ser feita por quem é “louco”, ou seja, apresenta algum transtorno mental ou por quem é “rico”, já que ela constitui um luxo ou até uma “frescura”. Também alguns indivíduos acreditam que se fizerem terapia, eles estão sendo fracos, não conseguiram lidar sozinhos com seus problemas. Entretanto, hoje é sabido que isso é totalmente errôneo e a terapia pode auxiliar muitas pessoas em seus sofrimentos.

  1. A maioria dos pacientes procura por ajuda especializada quando o problema já estourou, certo? Este ato deveria ser o contrário? Quais as consequências de procurar um profissional após o problema já estar acontecendo? Fale sobre o assunto.
R: As pessoas procuram a psicoterapia por dois motivos: ou porque elas têm algum sofrimento/angustia ou para se autoconhecerem. Na verdade, não existe uma hora exata para essa busca, pois é o paciente que tem que decidir quando está disposto e preparado para fazê-la. Entretanto, um paciente já em crise terá uma plano terapêutico diferente daquele que já está em um processo terapêutico quando surge um problema. É um processo mais tranquilo para quem procurou antes do “problema estourar”.

  1. Como “prever um problema” e procurar ajuda profissional antes? A ajuda profissional deveria fazer parte da prevenção e não da cura, você concorda?
R: A psicoterapia auxilia o paciente em lidar com seus problemas, questões que ele não consegue resolver sozinho, tomada de decisões, dificuldades de existência, insatisfações e angustias e ela não tem resultado se alguém começa o processo forçado, seja criança, adolescente ou adulto.
Assim, a psicoterapia constituirá um método de prevenção de várias doenças principalmente quando os pacientes a buscam para se conhecer melhor, evitar adoecimentos e querem um melhor funcionamento psicológico na vida.
É importante então as pessoas prestarem atenção nos seus comportamentos e emoções e identificando sofrimento ou mudança procurarem ajuda profissional.

  1. Mesmo estando bem, as pessoas devem procurar ajuda de psiquiatras e psicólogos, como se fosse uma forma de “manter o bem-estar”? Por quê?
R: A psicoterapia contribui para a pessoa “manter o bem-estar”, pois ela “cuida” da parte emocional do indivíduo, porém ela não deve ser utilizada permanentemente, existe um plano terapêutico individual e ele tem prazos e metas que precisam ser cumpridos. Um paciente não pode ficar dependente da terapia, ele precisa ter alta.
As pessoas, mesmo estando bem, devem sim procurar um psicólogo, fazer uma avaliação, com o intuito do autoconhecimento, para adquirir melhor desenvolvimento pessoal, garantindo a utilização de todo o potencial da personalidade na busca de uma melhor qualidade de vida.

  1. Em relação à identificação com o profissional, esse fator é essencial? Fale sobre o assunto.
R: Precisa existir uma identificação profissional para a psicoterapia ser eficiente, pois uma relação terapêutica ruim compromete todo o processo terapêutico. Os diferentes tipos de abordagens, a personalidade do paciente, a expetativa deste em relação à terapia, a personalidade do psicólogo são alguns dos fatores de influencias.
A psicoterapia tem que representar um local seguro, acolhedor onde existe uma relação de confiança, autenticidade, afeto, consideração positiva e empatia. O paciente tem que sentir que ali é o espaço dele, um momento de encontro consigo mesmo, de auto estudo e de compreensão do próprio funcionamento, de suas emoções e cognições.

PODE CITAR UM EXEMPLO?
  • Pode citar algum caso interessante de paciente, que está relacionado com algum dos problemas citados na primeira questão. Como foi a procura por ajuda (o problema já tinha estourado)? Como está ou foi o tratamento? O que ele achou da ajuda profissional?
Exemplo: M. G., 35 anos, fisioterapeuta, queixa de depressão e buscou a psicoterapia por insistência de familiares que apontaram as suas mudanças de comportamentos. Apresentava sintomas como dificuldades para terminar tarefas, concentração prejudicada, sono excessivo, perda de peso, baixa autoestima e isolamento social.
Primeiramente foi realizada uma avaliação em que foram levantadas questões situacionais, influencias do desenvolvimento e fatores biológicos, genéticos e médicos.
Além disso, inventários foram aplicados como o de depressão com o intuito de se ter um diagnóstico mais preciso.
Posteriormente foi desenvolvido um plano terapêutico com as metas da terapia e as atividades adequadas ao caso como: intervenções comportamentais, modificações dos pensamentos automáticos negativos, desenvolvimento da autoestima e eficácia pessoal.
Também a paciente foi encaminhada para o psiquiatra para uma avaliação e optou-se pelo não uso do medicamento antidepressivo.
A paciente aderiu ao tratamento completamente e com o passar das sessões foi retomando as atividades que lhe davam prazer como caminhar, sair com as amigas e dançar.
Após alguns meses, a paciente já havia diminuído consideravelmente os sintomas apresentados no início do tratamento e aos poucos eles desapareceram.
Nesse momento, trabalhou-se a prevenção de recaída e ela teve alta.

Foi a sua primeira experiência com psicoterapia e ela relatou ter gostado bastante.