quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Depressão, ansiedade e estresse na infância

Hoje saiu no Caderno Especial de Domingo (CED) do Jornal de Itatiba (JI) uma reportagem da qual participei como psicóloga sobre os transtornos infantis de ansiedade, estresse e depressão.




Crianças Tristes

Qual o seu nome completo e função? R: Stella Calvi Franco Penteado – psicóloga

PERGUNTAS:
1.    Comente: “Mais do que infelizes, as crianças brasileiras também estão ansiosas, estressadas, deprimidas e sobrecarregadas”.
R: Atualmente é cada vez mais frequente os casos de crianças que apresentam transtornos como depressão, ansiedade e estresse, principalmente pela rotina repleta de atividades, pressões excessivas, além de estarem tendo mais contato com a realidade dos problemas dos adultos. Elas também não estão tendo tempo livre para brincarem e se desenvolverem social, físico e emocionalmente.

2.    Pode-se dizer, portanto, que elas estão desconfortáveis com a infância?
R: Quando as crianças tem uma infância onde há sofrimento, sentem-se desconfortáveis e esse quadro é bastante diferente dos sentimentos de alegria, diversão e descobertas que deveriam caracterizar essa fase da vida.

SINAIS:
1.    Quais são os sinais físicos que as crianças apresentam quando não estão bem (quando estão tristes/ansiosas)? E os sinais psicológicos?
R: Existem diversos sintomas que demonstram que existe algo errado com a criança como: dor de barriga, ânsia, dor de cabeça, sudorese, alteração do apetite, falta de ar, cansaço, dores musculares, problemas com o sono, apatia, medos, preocupações excessivas, agitação, dentre outros.

2.    Em muitos casos é correto afirmar que o professor é o primeiro a notar a ansiedade e a tristeza de uma criança – por meio de desenhos, omissão em atividades em grupo, falas soltas? Comente.
R: Os sintomas que as crianças apresentam geralmente são notados pelas pessoas próximas e que passam bastante tempo com elas. Dessa forma, os pais e os professores são os que mais identificam os sinais.
Na escola é frequente as crianças demonstrarem que estão sofrendo, tanto nas atividades propostas pela professora como em sua postura diferente em sala de aula.

(Exemplo: N. B., 11 anos, escreveu uma redação na escola em que a personagem da história era muito triste e estava sofrendo. A professora logo percebeu que ela estava falando sobre si mesma, pois também havia modificado o seu comportamento em sala de aula, estava mais quieta e não queria participar das atividades propostas. Diante desse quadro, a professora alertou os pais que levaram a filha fazer uma avaliação psicológica e iniciou-se o tratamento adequado).

FATORES QUE CONTRIBUEM:
1.    Hoje, já não existe mais tanto espaço para correr, brincar ou “descobrir o ambiente”. A infância de “ontem” era mais “leve que a de hoje”? O mundo atual é mais estressante e angustiante para a criança, sobretudo as dos centros urbanos? Fale sobre.
R: Hoje os pais se preocupam com o futuro profissional das crianças desde quando são ainda bebês e querem proporcionar a elas todo o conhecimento do mundo para que estejam preparadas para o mercado de trabalho quando se tornarem adultos. Assim, desde muito cedo, elas tem uma agenda cheia de cursos. Porém não sobra tempo para elas brincarem e curtirem a infância plenamente. Além disso, muitas crianças não encontram um amplo espaço para realizarem suas atividades, vivem dentro de apartamentos e acabam se dedicando demasiadamente a vídeo games, computadores, celulares e tabletes. Não existe o equilíbrio entre as atividades extracurriculares, vários tipos de brincadeiras e o descanso.
Outro fator é que as crianças estão tendo contato cada vez mais cedo com problemas “de adultos” como as mais diversas formas de violência.

2.    Além da falta de espaço, com a correria do dia-a-dia, a educação dos filhos acaba sendo delegada a outras pessoas menos comprometidas com o bem-estar e a formação emocional deles (digamos que a educação passa a ser “terceirizada”). Qual reflexo dessa “terceirização” da educação quando se fala em angustia e tristeza infantil?
R: Os pais não devem terceirizar a educação dos seus filhos, pois essa é uma função exclusiva deles, principalmente nos primeiros anos de uma criança. O que eles podem terceirizar são alguns cuidados e aprendizados como o que acontece nas escolas, nos cursos, com os familiares ou com a babá.
Ninguém precisa parar de trabalhar para estar presente na vida de uma criança, os pais necessitam se organizar, dividir as tarefas e se lembrar de que o importante é a qualidade do tempo que estão juntos e não a quantidade. Além disso, a tecnologia ajuda na comunicação constante.
A terceirização pode provocar na criança sentimentos como de angustia, tristeza, ansiedade, insegurança, estresse e falta de limites. São os chamados filhos “órfãos”, tem pais vivos e que moram juntos, porém ausentes, não atuantes frente as suas responsabilidades como as de educação.

3.    Muitas das atividades extracurriculares (ex: cursos de inglês/esporte), às quais os pequenos são submetidos, são para preencher o tempo que os pais estão ausentes e, de certa forma, funcionam como um mecanismo que os responsáveis encontram para capacitar o filho, tendo em vista seu futuro profissional. Apesar da boa intenção, o tiro pode sair pela culatra? Como isso acarreta o sofrimento na infância?
R: É importante para uma criança participar de cursos extracurriculares, porém se ela se sente sobrecarregada, essa agenda cheia irá acarretar mais danos do que benefícios. Não é raro que os filhos tenham mais compromissos do que os seus pais, são “mini-executivos”.
O problema é que criança não consegue lidar com todas as cobranças e ter bons resultados em todos os cursos que faz e então se sente frustrada, triste, ansiosa, estressada e cansada. A recomendação é fazer algumas atividades de que ela goste e com um intuito mais recreativo, lúdico do que competitivo.

4.    A proteção excessiva dos pais pode ser outro fator para a tristeza infantil?
R: A superproteção dos pais é prejudicial para a criança, pois ela cresce insegura, dependente deles, não experimenta a sua autonomia e não está acostumada a ter frustrações. Quando ela precisa lidar com qualquer situação sozinha se estressa, pois está habituada a ter sempre alguém para resolver o seu problema e protege-la e isso pode fazê-la sentir-se triste e incapaz. 

5.    A configuração moderna de relacionamento – priorizando o virtual (redes sociais/videogames/televisão) em detrimento do real – contribui para o estado de tristeza e ansiedade da criança? De que forma? Aumenta também a competitividade entre elas? Comente.
R: Atualmente as crianças passam muito tempo “online” e vivem um mundo mais virtual do que real e isso pode contribuir para um estado de tristeza e ansiedade, pois nesse mundo atrás da tela tudo é possível, as pessoas são felizes e podem ser quem elas quiserem, gerando possíveis frustrações. Além disso, esse meio tecnológico pode aumentar a competividade e as comparações, um quer estar e ser melhor do que o outro, tanto que as pessoas somente colocam suas melhores fotos e compartilham apenas as suas conquistas nas redes sociais.

6.    O problema (angustia/tristeza) pode ser agravado pelo fato de que muitos pais demoram para perceber o que se passa com seus filhos? Comente.
R: É de fundamental importância os pais estarem sempre muito atentos aos comportamentos dos seus filhos porque o quanto antes eles perceberem que existe algo errado e tratarem as crianças, menores serão as consequências para elas. Ou seja, quanto mais cedo é feito o diagnóstico e realizada a intervenção, maiores as chances de reduzir os impactos causados pelo sofrimento vivenciado.

7.    Antes raramente uma criança ouvia falar de um ato de violência. Mas, hoje ficam mais confinadas e têm medo de assaltos e sequestros. Este pode ser outro item que contribui para a tristeza/angustia infantil?
R: A violência é um dos problemas que atinge a todos os cidadãos e as crianças acabam tendo contato com ela muito cedo seja pelas notícias dos jornais, por alguma experiência própria ou por um relato de um amigo ou de um familiar. Além disso, muitos pais transferem esse medo e insegurança para os seus filhos o que pode contribuir para causar um sofrimento neles de tristeza/angustia.

DISCIPLINA
1.    Especialistas em educação são unânimes em afirmar que disciplina, regras claras e um toque de autoridade dão segurança aos filhos. Deixar que o filho realize todas as vontades pode ser um problema? Até que ponto?
R: Os pais precisam colocar limites nos seus filhos e não podem fazer todas as suas vontades. As crianças precisam dessa segurança, autoridade, aprender o que é certo e errado e lidar com a frustração senão poderão se tornar ansiosas, estressadas ou depressivas. O mundo tem regras e para se viver em sociedade todos devem respeitá-las desde cedo.
Entretanto essa disciplina deve ser através do diálogo, confiança, amor e respeito.

2.    Muitas vezes é na proibição dos pais, que o filho encontra o alívio para romper com a pressão do grupo que demanda algumas atitudes que, de fato, ele não quer tomar. Está correta esta afirmação?
R: Algumas vezes a criança quer a negativa dos pais como uma busca pela autoridade e porque naquele momento ela não está preparada para tomar uma decisão por conta própria. Quando os pais a proíbem ela se sente aliviada pois não poderá fazer aquilo que o grupo está propondo e poderá utilizar esse argumento de que os pais não a autorizaram.

3.    Ser “careta”, portanto, ainda rende os melhores frutos? Arrumar a cama, por exemplo, não deve ser um ato remunerado, mas uma lição explicativa à criança de que ela faz parte daquele núcleo e sua ajuda é importante para o todo. Comente.
R: Educar não é fácil, mas quando existe amor, carinho, diálogo, disciplina, respeito, afeto, atenção, paciência, sinceridade, autonomia e compreensão tudo se resolve.
Os pais são os exemplos dos filhos então precisam ficar atentos as suas atitudes. Os combinados devem sempre ser estabelecidos, entendidos e cumpridos por ambas as partes, por exemplo, a criança ter como tarefa arrumar a sua cama.
E as agressões físicas e verbais jamais devem ser utilizadas.

PREVENÇÃO E TRATAMENTO
1.    A melhor precaução para a ansiedade e tristeza das crianças ainda é o mais antigo dos métodos: pais presentes?
R: As causas dos transtornos como ansiedade e depressão são diversas, mas certamente pais presentes, acolhedores, afetivos, pacientes e atentos, que formam uma família unida em que todos os membros são respeitados, atuantes e conversam sobre si constitui um fator importante para o desenvolvimento saudável de uma criança.

2.    Quais outras formas de evitar a ansiedade e tristeza das crianças?
R: Algumas formas de prevenção de transtornos infantis como depressão, ansiedade e estresse: pais presentes, alimentação saudável, atividades físicas, ter uma rotina, não ter uma agenda sobrecarregada, tomar cuidado com críticas e pressões, fazer elogios sinceros, ter períodos de brincadeiras e descansos, limitar a exposição a noticias violentas e tristes, pesquisar se existem casos na família de pessoas que apresentam os mesmos transtornos, dentre outros.

3.    Quando a criança já está sofrendo de ansiedade e tristeza, o que deve ser feito? Como ajudá-la?
R: Quando se percebe que a criança está sofrendo o ideal é levá-la a um psicólogo para que ela passe por uma avaliação psicológica e, se for identificado o transtorno, comece o tratamento o mais rápido possível. Às vezes ela também passará por um psiquiatra que poderá receitar alguma medicação, caso seja necessário.
Os pais terão um papel fundamental no tratamento dos seus filhos seguindo as orientações propostas pelo psicólogo/psiquiatra.
O tratamento psicológico trabalha os transtornos através do lúdico. A criança aprenderá a identificar os seus sentimentos e pensamentos e desenvolverá algumas técnicas para conseguir lidar melhor com o seu sofrimento.

DEPRESSÃO INFANTIL
1.    Quando a tristeza/ansiedade da criança torna-se depressão infantil?
R: A tristeza é um sentimento momentâneo, comum e geralmente é causado por algum motivo. Quando essa tristeza não passa e outros sintomas aparecem como apatia, alterações no apetite e no sono, a criança pode estar com depressão, que é um quadro patológico.
A ansiedade por si só se torna um transtorno quando ela é exagerada e prejudica a criança que apresenta sintomas como medos, preocupações excessivas, falta de ar, sudorese, dores de cabeça e de barriga, alterações no apetite e no sono etc.

2.    Quais sintomas?
R: Os sintomas da depressão infantil são: melancolia, idealização autodepreciativa, agitação, alterações do sono, mudanças no rendimento escolar, socialização diminuída, mudança de atitude na escola, queixas somáticas (dores físicas), perda da energia habitual e mudanças no apetite.

3.    Qual forma de tratamento?
R: Assim como os outros transtornos como de ansiedade e de estresse, o tratamento da depressão infantil ocorre por meio da psicoterapia e, quando necessário, com medicamento receitado pelo psiquiatra.
O psicólogo, por meio do lúdico, ensinará a criança a trabalhar com suas preocupações e emoções. Aos poucos ela conseguirá ver a vida de maneira mais positiva e o seu sofrimento diminuirá.
Os pais terão participação fundamental no tratamento.

4.    A depressão na infância pode afetar a fase adulta? De que maneira?
R: Quando a criança apresenta algum transtorno na infância, ele deve ser tratado rapidamente para não comprometer o desenvolvimento saudável dela. Dessa maneira, se uma criança tiver depressão na infância e não passar por nenhum tratamento, provavelmente ela terá sérios prejuízos sociais e emocionais e esse transtorno depressivo deverá continuar na vida adulta de forma mais intensa.

Entretanto se o diagnóstico for realizado precocemente e a criança tiver um tratamento adequado, ela terá todas as possibilidades de superar esse quadro.

Exemplos:
·         Ansiedade infantil: M. P., 9 anos, reclamou de dores abdominais e de cabeça. Levada pelos pais ao pediatra não foi constatado nada físico, mas através dos relatos deles de que ela era uma criança preocupada, roía as unhas e tinha dificuldades para dormir quando teria algo importante no outro dia, foi feito o encaminhamento para a psicóloga e diagnosticado o transtorno de ansiedade. Com o tratamento, a criança passou a aprender a controlar a sua ansiedade e os sintomas físicos e emocionais desapareceram. Os pais também participaram de todo o processo seguindo as orientações propostas.

·         Depressão infantil: L. S., 8 anos, estava apresentando um comportamento retraído, demorava para ambientar-se a novas situações e pessoas e preferia atividades solitárias. Começou a recusar convites dos amigos para jogar futebol e ir ao cinema. Também passou a ter menos fome do que o habitual e muito sono. Os pais preocupados o encaminharam para uma avaliação psicológica em que o diagnóstico foi de depressão. As sessões com ele e com os pais foram fundamentais para a melhoria do quadro. O menino compreendeu melhor o que sentia e através das atividades propostas teve uma diminuição dos seus sintomas, voltando a ter prazer nas atividades diárias.

·         Estresse infantil: F. G., 10 anos, tinha uma agenda repleta de atividades como inglês, espanhol, natação, tênis e aulas de guitarra. Estava sempre cansado, triste e não tinha vontade de brincar. Aos fins de semana somente queria dormir. Os pais perceberam que algo estava errado e procuraram ajuda psicológica. O diagnóstico foi de estresse. Nas sessões ele aprendeu a lidar com os seus sentimentos, pensamentos e comportamentos. Com algumas orientações aos pais, diminuição das atividades diárias, aumento do tempo para brincadeiras e descanso, o menino logo voltou a ser uma criança ativa e feliz.



quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Palestra para os calouros do curso de Psicologia da USF - Itatiba

Tive o prazer de participar de uma mesa redonda, juntamente com outros ex-alunos  e atualmente psicólogos atuantes (Orlando, Marcelha e Vanderleia), no 1o semestre de Psicologia da USF do Campus de Itatiba.
Foi muito gratificante o "bate-papo", fomos muito bem acolhidos por todos e espero que os ingressantes aproveitem os 5 anos da graduação e sejam futuros colegas de profissão competentes e éticos :-)
Agradeço a professora e coordenadora Cassia pelo convite e a professora Leza pela receptividade!