Os principais problemas levados aos consultórios
Qual seu nome completo e função? Stella Calvi
Franco Penteado, psicóloga clínica.
- Cite
cinco principais problemas levados ao consultório pelos pacientes.
Coloque-os em ordem do mais levado para o menos levado ao consultório.
R:
Pacientes adultos: ansiedade, depressão, dificuldades nos relacionamentos,
estresse e luto.
Pacientes
adolescentes: problemas de comportamentos, depressão, dificuldades nos
relacionamentos, ansiedade, transtornos alimentares/dúvidas na escolha
profissional.
Pacientes
crianças: dificuldades escolares, problemas de comportamentos, falta de
limites, dificuldades nos relacionamentos e medos.
- Quem
procura mais por ajuda profissional: homem ou mulher? Por quê? De qual
faixa etária e por quê?
R:
Com relação às crianças e aos adolescentes, não existe diferença no quesito
sexo. Já nos adultos, as mulheres buscam mais a psicoterapia, apesar de estar
crescendo o número de homens como pacientes.
Os
homens ainda sentem receio de fazer terapia, de mostrar suas fraquezas e de
precisar de uma ajuda profissional.
Com
relação à idade, varia bastante, dos 3 aos 60 anos. Os idosos vieram de uma
geração em que fazer terapia não era visto como um fato natural e dificilmente
a procuram.
- Na
sua opinião, diante destes problemas relatados na questão acima, qual ou
quais os motivos para eles serem desencadeados? Fale sobre o assunto.
R:
Os comportamentos e as emoções são influenciados pela percepção que cada um tem
dos acontecimentos da vida. Dessa forma, é a maneira que as pessoas
“interpretam” a situação que vai determinar o que elas sentem e desenvolver
determinado problema seja ansiedade, depressão, estresse, problemas nos
relacionamentos, dentre outros.
Além
disso, os transtornos de ansiedade e depressão, além do estresse, estão
diretamente relacionados ao nosso estilo de vida moderno: corrido e
intenso.
Já
as questões de relacionamentos (sejam familiares ou interpessoais) existem por
que vivemos em sociedade e estamos o tempo todo interagindo uns com os outros.
Especificamente
nos adolescentes, existe um perfil próprio da fase de mudanças que acarretam inseguranças
pessoais e profissionais, podendo desencadear certos problemas. E nas crianças
também questões como medos, limites, dificuldades escolares são características
dessa etapa.
- É
correto afirmar que a vida moderna isola as pessoas, que não têm com quem
se relacionar, com quem falar; é como se o vovô, a vovó, os conselheiros e
os padres confessores deixassem um grande vazio que hoje é ocupado por
profissionais como psicólogos?
R:
Com o estilo de vida das pessoas, hoje em dia, não se tem mais o costume de ocorrer
longas conversas com os avós e conselheiros. Entretanto a psicoterapia tem uma
função diferente das relações apresentadas com esses indivíduos, ela não tem o
objetivo da pessoa “desabafar”, pois isso ela pode fazer com os amigos até no
chat do “Facebook” ou no “WhatsApp”.
A
psicoterapia é realizada pelo psicólogo que tem um conhecimento científico na
intervenção técnica, ou seja, ela é intencional, estudada, planejada e feita
através de conhecimentos específicos aprendidos nos estudos da área. Enfim, a
relação entre o psicólogo e o paciente é completamente diversa daquela que o
paciente tem com o seu amigo, pai, avô ou conselheiro.
- É
correto afirmar também que fazer terapia, atualmente, é normal, mas nem
sempre foi assim? Antes era encarada de maneira “preconceituosa” ou
deixada como última alternativa de tratamento? Comente.
R:
Infelizmente ainda existe certo preconceito com a terapia, mas ele vem
diminuindo cada vez mais. As pessoas desinformadas acreditam que ela deve ser
feita por quem é “louco”, ou seja, apresenta algum transtorno mental ou por
quem é “rico”, já que ela constitui um luxo ou até uma “frescura”. Também
alguns indivíduos acreditam que se fizerem terapia, eles estão sendo fracos,
não conseguiram lidar sozinhos com seus problemas. Entretanto, hoje é sabido que
isso é totalmente errôneo e a terapia pode auxiliar muitas pessoas em seus
sofrimentos.
- A
maioria dos pacientes procura por ajuda especializada quando o problema já
estourou, certo? Este ato deveria ser o contrário? Quais as consequências
de procurar um profissional após o problema já estar acontecendo? Fale
sobre o assunto.
R:
As pessoas procuram a psicoterapia por dois motivos: ou porque elas têm algum
sofrimento/angustia ou para se autoconhecerem. Na verdade, não existe uma hora exata
para essa busca, pois é o paciente que tem que decidir quando está disposto e
preparado para fazê-la. Entretanto, um paciente já em crise terá uma plano
terapêutico diferente daquele que já está em um processo terapêutico quando
surge um problema. É um processo mais tranquilo para quem procurou antes do
“problema estourar”.
- Como
“prever um problema” e procurar ajuda profissional antes? A ajuda
profissional deveria fazer parte da prevenção e não da cura, você
concorda?
R:
A psicoterapia auxilia o paciente em lidar com seus problemas, questões que ele
não consegue resolver sozinho, tomada de decisões, dificuldades de existência,
insatisfações e angustias e ela não tem resultado se alguém
começa o processo forçado, seja criança, adolescente ou adulto.
Assim, a psicoterapia constituirá um método de
prevenção de várias doenças principalmente quando os pacientes a buscam para se
conhecer melhor, evitar adoecimentos e querem um melhor funcionamento
psicológico na vida.
É importante então as pessoas prestarem atenção nos seus
comportamentos e emoções e identificando sofrimento ou mudança procurarem ajuda
profissional.
- Mesmo
estando bem, as pessoas devem procurar ajuda de psiquiatras e psicólogos,
como se fosse uma forma de “manter o bem-estar”? Por quê?
R:
A psicoterapia contribui para a pessoa “manter o bem-estar”, pois ela “cuida”
da parte emocional do indivíduo, porém ela não deve ser utilizada
permanentemente, existe um plano terapêutico individual e ele tem prazos e
metas que precisam ser cumpridos. Um paciente não pode ficar dependente da
terapia, ele precisa ter alta.
As
pessoas, mesmo estando bem, devem sim procurar um psicólogo, fazer uma
avaliação, com o intuito do autoconhecimento, para adquirir melhor
desenvolvimento pessoal, garantindo a utilização de todo o potencial da
personalidade na busca de uma melhor qualidade de vida.
- Em
relação à identificação com o profissional, esse fator é essencial? Fale
sobre o assunto.
R:
Precisa existir uma identificação profissional para a psicoterapia ser
eficiente, pois uma relação terapêutica ruim compromete todo o processo terapêutico.
Os diferentes tipos de abordagens, a personalidade do paciente,
a expetativa deste em relação à terapia, a personalidade do psicólogo são
alguns dos fatores de influencias.
A
psicoterapia tem que representar um local seguro, acolhedor onde existe uma
relação de confiança, autenticidade, afeto, consideração positiva e empatia. O
paciente tem que sentir que ali é o espaço dele, um
momento de encontro consigo mesmo, de auto estudo e de compreensão do próprio
funcionamento, de suas emoções e cognições.
PODE CITAR UM EXEMPLO?
- Pode citar algum caso interessante de paciente, que está relacionado com algum dos problemas citados na primeira questão. Como foi a procura por ajuda (o problema já tinha estourado)? Como está ou foi o tratamento? O que ele achou da ajuda profissional?
Exemplo: M. G., 35 anos, fisioterapeuta, queixa de depressão
e buscou a psicoterapia por insistência de familiares que apontaram as suas
mudanças de comportamentos. Apresentava sintomas como dificuldades para
terminar tarefas, concentração prejudicada, sono excessivo, perda de peso,
baixa autoestima e isolamento social.
Primeiramente foi realizada
uma avaliação em que foram levantadas questões situacionais, influencias do
desenvolvimento e fatores biológicos, genéticos e médicos.
Além disso, inventários
foram aplicados como o de depressão com o intuito de se ter um diagnóstico mais
preciso.
Posteriormente foi
desenvolvido um plano terapêutico com as metas da terapia e as atividades
adequadas ao caso como: intervenções comportamentais, modificações dos
pensamentos automáticos negativos, desenvolvimento da autoestima e eficácia
pessoal.
Também a paciente foi
encaminhada para o psiquiatra para uma avaliação e optou-se pelo não uso do
medicamento antidepressivo.
A paciente aderiu ao
tratamento completamente e com o passar das sessões foi retomando as atividades
que lhe davam prazer como caminhar, sair com as amigas e dançar.
Após alguns meses, a
paciente já havia diminuído consideravelmente os sintomas apresentados no
início do tratamento e aos poucos eles desapareceram.
Nesse momento, trabalhou-se
a prevenção de recaída e ela teve alta.
Foi a sua primeira
experiência com psicoterapia e ela relatou ter gostado bastante.