Segunda-feira, 06:40: O despertador toca. Ela dá um salto. Ouvimos o chuveiro. Encontra o marido na cozinha. Beijinho, café, contas. Chamego na filha, orientações para a babá e para a empregada. Mais um beijinho no marido e sai. No espelho do elevador, ela ajeita a gola da blusa entre o blazer e o colar de pérolas. Pequenas pérolas. Chique. Moderna. Encara-se no espelho e mentalmente se faz a pergunta: “Espelho, espelho meu, existe no mundo mulher mais bem sucedida do que eu? “
Terça-feira, 13:25: A reunião termina. Ela sai para almoçar perto do trabalho. “Só vou comer uma saladinha. Saladinha. Saladinha”- pensa repetidas vezes o seu diet-mantra! Celular
Quarta-feira, 5:45: Ela, a babá e a criança, que chora baixinho reclamando a dor de ouvido que não deu trégua a noite inteira. Uma noite com Otite! Ela não dormiu. O marido viajou à trabalho. Ligou muito. “Meu amor, pára de ligar e dorme. Alguém precisa descansar...”- ela disse, mas ao mesmo tempo seu lado irritada pensava: “se eu não durmo, ninguém dorme!”.
às 6:45: ela chega, de urgência, ao pediatra. A filha é medicada. Pára de chorar. Ela deixa a filha e a babá e segue para o trabalho sentindo vontade de ficar em casa, de pijama, agarrada na filha, com os cabelos despenteados assistindo aos programas femininos. De volta ao trabalho, é rapidamente consumida por inúmeros telefonemas, emails e decisões. Decisões! Quem foi que inventou isso??? Escolhas, Decisões, opiniões, coisa mais tediosa! Embaixo dos papéis que “povoam” sua mesa, está seu contra-cheque, lacrado. Abre. Olha-o com calma. “Esse dinheiro é conseqüência da minha competência”- fala alto. E, neste instante, fecha os olhos e imagina a casa dos seus sonhos. “Estou jogando a imagem no Universo. The secret!”
Abre os olhos. E, por alguma conexão do seu pensamento, lembra da sua mãe que se dizia feminista somente porque seu pai era comunista. “Os “ismos” estavam na moda, minha filha!” E dá uma risada, lembrando do espírito livre e espontâneo de sua mãe.
Quinta-feira, Hora do almoço: ao invés de alimentação, ela prefere manutenção, do corpo! Segue para uma academia onde em 30 minutos existe a promessa da boa forma. O marido chega à noite. Ela quer se sentir durinha, afinal, precisa renovar o romance. No caminho de casa, compra um brinco novo. Suficiente para se sentir novinha,
Sexta-feira, 07:00: “Que sol... que céu lindo...Saudades do tempo em que eu freqüentava a praia...”pensa ela dentro do avião.
Crônica Publicada no Blog da Suzana Pires