No fim do ano passado, fui entrevistada em um programa de rádio de um TCC do curso de jornalismo da Faccamp sobre o tema do uso
indevido de aplicativos de comunicação como compartilhamento de fotos e vídeos pessoais
íntimos.
Algumas questões relevantes da entrevista:
- Por que
as pessoas sentem a necessidade de filmar o ato sexual?
R: Filmar o ato sexual é um fetiche
para algumas pessoas. Sem contar que
atualmente o culto a imagem está em evidencia, sendo o exibicionismo de fotos
ou vídeos íntimos um reflexo dessa situação. Também compartilhar a intimidade
pode servir como um meio de aproximação entre as pessoas.
Principalmente os adolescentes buscam popularidade
nessa exposição ilimitada e ignoram as consequências de filmar um ato sexual,
por exemplo. Além disso, os jovens apresentam um comportamento de rebeldia,
afrontando os limites impostos pelos adultos e querendo chocar a sociedade. Dessa
forma, essa autoexposição faz parte do seu processo de autoafirmação e
amadurecimento.
Constantemente esse comportamento só mascara uma pessoa com autoestima baixa e
insegura.
Um exemplo dessa realidade é uma “competição”
que vem acontecendo na internet. Os adolescentes gravam as suas relações
sexuais, exibem as filmagens no YouTube e o ganhador será quem tiver mais
visualizações.
Outro exemplo é o fenômeno chamado “Sexting”
(adolescentes utilizam os celulares, sites de relacionamentos, contas de
e-mails etc para tirar e mandar fotos sensuais para amigos e namorados).
- Por que
os jovens, em especial os rapazes, gostam de apreciar e compartilhar vídeos
pornôs, sejam eles profissionais ou caseiros? Qual a necessidade psicológica?
R: Um indivíduo que busca a
pornografia (ou especificamente os vídeos pornôs) geralmente é pelo prazer e
pela excitação, é um voyeurismo, ou seja, ele tenta realizar as suas próprias
fantasias por meio de outras pessoas.
Nos jovens essa atividade é frequente, pois é mais
fácil para um adolescente viver no mundo imaginário, já que ele está passando
por uma fase complicada e de muita insegurança.
Assim, é viável procurar uma satisfação sexual online onde ele não tem
que se expor e lidar com uma rejeição.
O anonimato proporcionado pelo computador faz com
que a pessoa possa assumir outra personalidade e realize as suas fantasias
inimagináveis no mundo real. Ou seja, é frequente que as frustrações do
cotidiano contribuam para a procura da pornografia. O problema é que na
internet tudo é ilusório.
- Em
casos onde um vídeo particular seja disseminado, quais aspectos psicológicos a
pessoa do vídeo pode ser atingida? É possível resultar em um suicídio?
R: É muito difícil para uma
pessoa que não autorizou a divulgação do seu vídeo íntimo lidar com essa
exposição e isso é bastante frequente. Muitas vezes é um conhecido que disseminou
a gravação, fato que só aumenta a decepção e a raiva de ter sua intimidade
violada. Além disso, as meninas sofrem mais que os meninos nessa situação pela
desigualdade sexual existente na sociedade.
Para os adolescentes esse
momento é ainda mais complicado do que para os adultos, pois eles estão em uma
fase de desenvolvimento, construindo a sua personalidade e amadurecendo. Por
isso mesmo eles podem não aguentar a pressão.
Muitas famílias se mudam de
cidades ou estados para que o jovem possa recomeçar a sua vida e tentar
esquecer toda a humilhação e julgamento sofrido.
O apoio da família e dos
amigos é de fundamental importância, além da procura de um profissional da
psicologia para auxiliar a vítima no enfrentamento desse acontecimento.
Cada indivíduo interpreta e
lida de uma maneira com os eventos da vida, alguns podem ficar deprimidos,
outros com crises de ansiedade e uma minoria, em decorrência também de outros
fatores existentes, pode sim cometer um suicídio, existindo relatos de
episódios que tragicamente terminaram assim.
- O grande
compartilhamento pode se referir a uma era da sociedade onde os indivíduos não
se colocam no lugar do outro antes de determinada
ação? Falta empatia?
R: Realmente hoje vivemos em uma
sociedade da individualidade, as pessoas não se preocupam com os outros, de
modo geral são egoístas e falta empatia. Se cada um que compartilhasse um vídeo
íntimo se colocasse no lugar da vítima, certamente agiria de maneira diferente.
- Pode
ser considerado algum problema psicológico a necessidade em ter esses vídeos
próximos e de fácil acesso?
R: O vicio em pornografia (vídeos
pornôs) deve ser tratado já que ele causa prejuízos para a pessoa que acaba se
isolando do mundo real. É comum ter relatos de abalo das relações conjugais e
familiares e problemas no trabalho. A pornografia vira uma fuga, ela é a única
fonte de prazer do indivíduo que não enfrenta as suas dificuldades e não lida
com as suas frustrações.
Enfim, se as coisas estiverem fugindo do controle é
recomendável procurar um psicólogo para compreender a necessidade de se ter esse
intenso acesso a pornografia.